Todos os dias, a presença nos noticiários de uma série de ações criminosas expõe, por meio das tristes histórias das vítimas, as mazelas da segurança no país. São casos que deixam sequelas nos protagonistas e amedrontam a população em geral. E como reagimos? Embora cada pessoa tenha seu jeito próprio de lidar com a questão, alguns comportamentos coletivos merecem ser destacados, pois apontam para a falta de prevenção.
A nós, especialistas em segurança, intriga o fato de que muitos dos casos de violência – noticiados ou não – são evitáveis, ou pelo menos passíveis de causar menos danos, mas para isso é necessário adotar medidas preventivas, muitas vezes bem simples, que os indivíduos parecem não enxergar, as autoridades não alertar, e a sociedade, desconsiderar.
Hoje, grande parte das pessoas só retira um carro da concessionária com uma apólice de seguro em vigor, trava os cintos de segurança antes de engatar a primeira marcha e sabe que é preciso manter uma vítima de acidente imóvel, aguardando a chegada de uma equipe de resgate profissional, mesmo após uma colisão leve. Sem dúvida, bons exemplos de condutas seguras a serem seguidos.
Porém, quando o assunto é a segurança de residência e seus moradores, ou de empresa e seus funcionários, uma coisa é certa: a grande maioria dos brasileiros investe pela primeira em vez em vigilantes profissionais, câmeras, alarmes, monitoramento remoto ou controle de acesso somente depois de uma ocorrência, de uma perda significativa de bens materiais e até de vidas. Seguindo essa lógica – “primeiro o trauma, depois a providência” – somente teríamos a apólice de seguro para o veículo ou adotaríamos o cinto de segurança, a partir do primeiro acidente, o que, sabemos, não é a melhor conduta.
Um dos segmentos da segurança que mais cresce atualmente no Brasil é o da eletrônica, no entanto ainda estamos longe do potencial gerado por um país com 190 milhões de habitantes. Hoje, há cerca de um milhão de câmeras auxiliando na segurança dos brasileiros; com um quarto da nossa população e índices de violência bem menores, a Inglaterra tem mais de 3 milhões de câmeras somente em áreas públicas. De um total de mais de 6 milhões de imóveis com condições de receber sistemas de alarmes monitorados no Brasil, apenas 11% efetivamente têm esses serviços – ou seja, 700 mil; enquanto isso, o número de residências com TV por assinatura ultrapassou a casa dos 13 milhões em janeiro.
Recentemente, a prefeitura de São Paulo divulgou a instalação de 100 câmeras ‘inteligentes’ em pontos estratégicos do centro expandido. Tais equipamentos têm um software que ao identificar eventos como uma pessoa pulando um muro, um tumulto de rua ou um veículo trafegando na contramão, dispara um sinal na tela, na central de monitoramento 24 horas, alertando os responsáveis por avaliar e tomar as providências cabíveis. Você, cidadão de bem, deve estar achando ótimo, não é? Pois saiba que houve várias manifestações de resistência. Os que criticaram na linha “os equipamentos são bons, mas não adianta instalar se não tiver mão de obra adequada para operar” deveriam mudar o discurso para algo do tipo: “ótimo, agora vamos comprar também um programa de treinamento e reciclagem dos operadores”. Atitudes assim é que fazem a segurança melhorar efetivamente. Houve até um grande jornal que, ao dar a notícia, chamou os equipamentos de “câmeras dedo-duro”, dando uma conotação pejorativa a uma ótima solução para melhoria da segurança pública.
É preciso mudar a cultura da segurança no País, volto a repetir, e para isso, precisamos trabalhar. De um lado, há o desafio de quebrar a velha resistência frente às mudanças necessárias. De outro, o de criar a consciência de que a prevenção é o melhor caminho.
*Erasmo Prioste é graduado em engenharia, especialista em segurança de patrimônio e diretor comercial do Grupo Segurança/ Security Vigilância Patrimonial.
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