Sem perspectiva de crescimento nos países ricos, companhias de defesa tentam operar no país para expandir seus mercados.
Com a necessidade de expandir seus negócios para mercados emergentes, empresas que atuam na área de defesa prometem entrar com força máxima para participar dos grandes eventos no Brasil. A agenda nacional, que começa com a visita do Papa em 2013 e termina com os Jogos Olímpicos em2016, no Rio de Janeiro, aguçou executivos de companhias do ramo que, coma crise, perderam espaço entre os principais consumidores: Estados Unidos e União Europeia. “Não oferecemos nossos serviços para Londres, que receberá os jogos olímpicos neste ano. Mas, definitivamente, entraremos na briga pelo Brasil”, diz Werner Lachenmaier, diretor comercial da europeia Cassidian.
A afirmação taxativa do executivo evidencia a mudança de objetivos da empresa, que há poucos anos, operava apenas em mercados desenvolvidos. Com a desaceleração dos países ricos, tiveram de buscar espaço entre os emergentes. Com a chance de ingressar no Brasil por meio destes eventos, a empresa espera não perder a oportunidade. “Estamos prontos para o jogo”, diz Lachenmaier. Atualmente, a companhia faz o monitoramento dos 9 mil quilômetros das fronteiras sauditas. Em 2010, forneceu equipamento de comunicação à polícia sul-africana para a Copa do Mundo e, em2008, para a de Pequim, durante a olimpíada. “Será necessário inovar paranos expandir globalmente. Os mercados emergentes fazem parte desta estratégia de inovação. Índia e Brasil são nossos principais objetivos”, explica o vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento da Cassidian, Aimo Bülte. Após o acordo que criou uma joint-venture com a brasileira Odebrecht, a companhia europeia anunciou investimentos de €200 milhões (US$ 260 milhões) até 2014 a fim de montar uma subsidiária no Brasil para atuar nos grandes eventos. A israelense Rafael Defense, com faturamento acima de US$ 1,7 bilhões e presente na maioria das nações ricas, partilha do pensamento da concorrente. “A Rafael tem interesse em grandes projetos. Temos a capacidade de oferecer sistemas de informação em tempo real, que são necessários para uma tomada de decisão extraordinária, comum nestes grandes eventos”, afirma Yitzhak Soroka, diretor para o Brasil da companhia. Entre os produtos oferecidos pelas empresas, estão câmeras de alta definição, que podem identificar um torcedor a mais de três quilômetros de distância; linhas de transmissão de dados de alta velocidade, integrando centros de controle e as polícias locais; armas letais e não letais de combate; e veículos seguros para o transporte de pessoas importantes, as chamadas VIPs (Very Importante People).
Por ser um evento de abrangência nacional, a Copa do Mundo de 2014 tem atraído maior interesse das companhias. De acordo com a consultoria Ernest Young,mais de R$ 1,69 bilhão serão investidos em segurança pública apenas para este acontecimento.
Segundo o Comitê Organizador Local (COL), os investimentos em segurança e defesa para a Copa de 2014 integram o orçamento de infraestrutura, que pode chegar a R$ 47,5 bilhões. No entanto, omontante aportado deve aumentar após a conclusão do evento da Fifa no Brasil. Somente no Rio de Janeiro, até 2016, devem ser aplicados R$ 3 bilhões emsegurança pública, segundo previsão feita há algunsmeses pelo secretário estadual, José Mariano Beltrame.
Sem um número oficial, as estimativas para São Paulo sugerem uma cifra menor, devido a uma menor participação nos Jogos Olímpicos. De acordo comSamira Bueno,coordenadora de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a parceria coma iniciativa privada é primordial para o sucesso destes eventos. “O grande potencial para as empresas está no fornecimento de tecnologia. Nesta área poderemos vislumbrar um legado após o término destes grandes eventos”, prospecta Samira Bueno. A consultora lembra que muitas cidades brasileiras já possuem um “know how” com grandes eventos, como os blocos de carnaval, em Salvador, e a Parada do Orgulho GLBT, em São Paulo.Nestes casos, diz Bueno, a segurança tem sido satisfatória devido ao grande número de pessoas envolvidas nos eventos. “São parceria entre os governos e a iniciativa privada bem sucedidas. Já existe uma experiência nesta área a partir destes eventos, principalmente na área tecnológica”.
(Jornal Brasil Econômico, Brasil/SP – 06/03/2012)
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