Pego de surpresa pela greve de policiais militares, que desencadeou uma onda de violência em várias regiões da Bahia, o governador Jaques Wagner (PT) sofre um revés na área que é considerada o "Calcanhar de Aquiles" de sua gestão. Com déficit no número de policiais e sem fôlego financeiro para novas contratações, o Estado viu o índice de homicídios disparar nos últimos dez anos. Braço direito do governador, o secretário da Casa Civil, Rui Costa, admite que a segurança pública é o ponto frágil da administração, iniciada em janeiro de 2007. Segundo ele, o governo vem tentando aumentar o efetivo de policiais, considerado insuficiente. "Recuperamos alguma coisa e hoje estamos com 32 mil [homens]. O objetivo é chegar a 40 mil até o fim deste governo. Mas como estamos próximos do limite, não dá para contratar mais", afirmou Costa, referindo-se ao aperto financeiro das contas estaduais. Diante da popularidade elevada do governador, a oposição costuma centrar as críticas na segurança e na saúde, o que deve se intensificar após a greve dos policiais, sem prazo para acabar. O governo não tem expectativa de quando o policiamento voltará ao normal. Apesar de se anunciar aberto ao diálogo, o governo sequer classifica a paralisação como uma greve, mas sim como "um movimento de um grupo de policiais". Na avaliação do professor Joviniano Neto, cientista político da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a pouca disposição para negociar com os grevistas pode manchar a imagem de conciliador de Wagner. "A manutenção dessa situação enfraquece politicamente o governador. Ele estava fora [do Estado] quando a greve foi deflagrada, não teve a capacidade de se antecipar e demorou para agir", disse o professor. "Acontece que a oposição terá dificuldade para criticá-lo, pois as duas greves anteriores ocorreram na época em que eles eram governo", ponderou Joviniano. O contingente de forças federais deslocado para a Bahia ganhou ontem o reforço de 40 homens do Comando de Operações Táticas da Polícia Federal, a "tropa de elite" da PF. O grupo chegou a Salvador com a tarefa de executar os mandados de prisão contra alguns dos organizadores da greve dos policiais. De acordo com a assessoria do governo baiano, esses policiais federais ficarão à disposição do Estado para remoção dos detidos aos presídios federais. Ontem foi preso o policial militar Alvin Silva, um dos 12 grevistas que tiveram a prisão decretada. Ele é acusado de formação de quadrilha e roubo de carro da corporação. Além dos especialistas da PF, desembarcaram ontem na Bahia outros 300 militares, do Exército da Força Aérea Brasileira. Ao todo, cerca de 3,5 mil homens das Forças Armadas, incluindo a Força Nacional de Segurança, já estão auxiliando no patrulhamento do Estado. Ontem, o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Marcelo Nilo, solicitou ao comando das Forças Armadas a reintegração da Casa, ocupada desde a última terça-feira por policiais grevistas. Os militares vão avaliar o pedido. De acordo com números de Secretaria de Segurança Pública da Bahia, foram registrados 86 homicídios no Estado durante a greve. Dados do Mapa da Violência, do Instituto Sangari, apontam crescimento de 300% no índice de homicídios na Bahia entre 2000 e 2010. Na capital, a alta é superior a 400%.
Fonte: Jornal Valor Econômico, Política/SP – 06/02/2012
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